O pôr do sol pintava de dourado as casas e incandescia o mar de Mykonos. A vibração da música flutuava pela pele e penetrava os poros. O DJ tocou um ritmo tribal e os tambores agora rufavam dentro do peito de Julia.

A sensação de liberdade era extasiante. De repente, sua mente ficou completamente limpa e não existia nada além da música. 

Julia fechou os olhos e dissolveu-se…

Ela era a música. Ela era aquele lugar, aquela festa. As centenas de pessoas que pulavam, suavam e sorriam, formavam junto com ela um único organismo. Um ser cujo propósito exclusivo era curtir a vida.

 A timidez havia desaparecido. Seus quadris se moviam ao ritmo do som –  agora um trance com metais acentuados e bips eletrônicos vibrantes  – que a transportava mais e mais para dentro de si mesma.

Ela abriu os olhos e reparou que no meio daquela multidão de corpos seminus, um belo exemplar de macho a observava atentamente. Ela se remexia com languidez e sensualidade. E o homem agora sorria pois havia, enfim, conquistado sua atenção. Julia retribuiu o sorriso.

Foi o suficiente para que ele se aproximar, colocar aquelas mãos enormes em suas costas e a beijasse. Um beijo intenso, com sabores de álcool, cereja e cigarro. Ela entregou-se àquele beijo e o ritmo dançante da música, fez seus corpos se fundirem. Julia fechou os olhos novamente e sentiu as mãos dele correrem por suas costas, tocarem sua nuca, enquanto suas coxas se entrelaçavam. 

Ao final da música ela teve que usar tudo o que restava do seu autocontrole para se desvencilhar daquele abraço. As coisas estavam acontecendo rápido demais. Ela pediu licença, dizendo que precisava tomar um ar. Ele lhe deu mais um beijo e a libertou.

A decoração da festa deixava tudo idílico. As paredes iluminadas e cores mutantes, os espelhos formando labirintos, a sensação de prazer, … Julia tinha dificuldade de separar o real da fantasia.

– Um Gatorade, por favor – pediu ao garçom. 

Alguns goles do isotônico, ajudaram a aplacar a sede e dar-lhe tempo para processar o que acontecia ao seu redor.

Depois de  apreciar a vista da cidade iluminada, brilhando como marfim na escuridão noturna, ela voltava para o bar quando viu seu recente parceiro beijando outra mulher com igual sofreguidão. Julia congelou por alguns segundos.

Então, novamente o DJ muda o ritmo e a voz de Bruno Mars cantando Just the Way You Are inunda o terraço. Algo dentro de Julia lhe diz:

– Esquece ele. Você tem tudo o que precisa pra ser feliz.

Julia fecha os olhos, envolve-se na música e dissolve-se novamente…

Desta vez tudo é muito mais intenso. Ela sente uma onda de amor arrebentar dentro de si. Ela se ama numa intensidade incrível, como nunca sentiu antes. Ela é linda, maravilhosa. Os versos que Bruno Mars cantam são para ela.

Julia levanta o queixo, abre os braços e seus olhos são presenteados com um filete de Lua crescente. A mãe celeste brilhando suavemente no breu noturno transportam-na para uma viagem interna. Ela ouve novamente uma voz dentro de si:

– Você merece tudo de bom que há ao seu redor. Você é divina.

O som ambiente agora é um deep house, com batidas suaves intercaladas com barulhos psicodélicos que a levam mais e mais profundamente para dentro de si. 

Ela se sente abrindo baús secretos repletos de amor. Amor que ela guardava para ela mesma e não se permitia. Agora está tudo ali. Disponível. Ela se alimenta daquele amor. Ela nada e mergulha mais e mais em seu próprio bem querer.

Quando se dá conta. As horas se passaram. Seu corpo está cansado. Os primeiros raios de sol já surgem. A Lua sumiu do céu. Mas Julia pode sentí-la dentro de si.