No raiar da manhã, a Senhora Onça sentiu o estômago roncar. Há três dias que não comia nada substancial. Da suculenta capivara restara apenas os ossos.

Decidiu ir no rio, beber água. Levantou-se sonolenta e um tanto fraca.

Dez passos ainda não havia dado, quando ouviu um farfalhar de folhas. Dois segundos depois, seu focinho lhe contava o local exato onde estava o autor do barulho. Não só isso, sentiu o cheiro de carne rosada e macia.

Deu mais três passos silenciosos e avistou a fonte do delicioso aroma: um coelhinho de pêlo preto e olhos vermelhos. Ele dava pequenos saltos e vasculhava as folhas caídas no chão da floresta. Quando tinha sorte, encontrava brotos de capim verde que devorava avidamente. Estava tão concentrado, que nem reparara na visita que o observava atentamente.

Silenciosa como uma sombra, ela deitou-se no chão bem em frente ao coelhinho. Quando ele levantou o focinho, viu apenas uma pedra imensa colorida de amarelo e preto. Ela sequer respirava. Ele voltou a saltar e a vasculhar as folhas.

Os pulinhos eram tão graciosos, que a Senhora Onça, deixou-se entreter com aquele balé. Com a ponta da cauda, começou a fazer pequenos movimentos sincronizados com os saltinhos do Senhor Coelho.

Desta vez ela conseguiu despertar a curiosidade dele. O Senhor Coelho observou o tufo preto mexendo e aproximou-se. Parecia um de seus irmãozinhos.

“Será que ele queria brincar?” – pensou.

O ingênuo saltitante aproximou-se da cauda e começou a cheirá-la. A onça divertiu-se com as cócegas que o minúsculo focinho fazia em seus pêlos.

Mas logo, o vazio estomacal despertou-a. Na fronteira exata entre duas piscadas de olho, ela transformou aquele divertido brinquedo numa agradável refeição quente.